Para meus amigos que querem morar fora

Somos considerados loucos, corajosos, aventureiros. Os malucos que enfrentaram os medos, as circunstancias e meteram a cara no mundo, saíram da zona de conforto e se jogaram numa vida nova. Vendemos desde sapatos ate carros e apartamentos, colocamos nossa vida numa mala e partimos para o desconhecido.

Nossas redes sociais ficam recheadas de fotos e vídeos de paisagens incríveis, dos amigos novos, dos sonhos realizados. Momentos felizes compartilhados com os amigos e família. Mostramos nossa nova vida com orgulho de cada passo dado, de cada novo lugar desbravado, de cada perrengue superado (e bota perrengue nisso). E todos os dias recebemos mensagens de amigos e conhecidos dizendo e perguntando as mesmas coisas: “Eu queria ter coragem para fazer isso”; “Quero ir morar fora também, me conta como você se organizou?”; “Esse sempre foi o meu sonho”.

E hoje, depois de uma papo cabeça com um grande amigo sobre como teria sido muito mais fácil ficar do que vir, decidi escrever esse texto. Como todos sabem, o que vemos nas redes sociais não é 1% da realidade. A vida aqui é linda, mas é longe de ser fácil e eu gostaria de expor as partes mais difíceis que ninguém te avisa antes de você vir. As partes que nenhum blog com dicas de viagens me ensinou, e que eu tive que viver e sentir na pele pra aprender. E escrevo isso não para te desencorajar, mas para te preparar. Eu ainda acredito que essa é a melhor experiência que alguém pode ter, mas isso não significa que ela seja fácil. E vou listar 7 motivos aqui:

1      Dividir apartamento com pessoas de culturas diferentes é muito complicado. As vezes você vai ter que se mudar. As vezes você vai perder dinheiro com isso. Mais de uma vez. E vai valer a pena para manter sua paz de espirito.
2.     Você vai viver de extremos as vezes. Os dias felizes são os melhores dias da sua vida. Mas os dias tristes, os dias em que bate aquela saudade de casa, do cachorro, do gato, do colo da família e dos amigos são potencializados também. A solidão te atinge mesmo num apartamento que você mora com outras 7 pessoas, acredite. E isso vai e vem. Diminui com o tempo, mas esta sempre ali.
3.     Você vai ficar doente. E, meu amigo, você pode ter 20, 30 ou 40 anos, quando você fica doente você vai querer a sua mãe e seu pai que nem uma criança de 5 anos. Você vai se sentir sozinho (sim, isso acontece muito, em diversas situações). Mas você vai sarar e vai ficar tudo bem.
4.     Você vai sentir saudade, o tempo todo, de tudo. Hoje me peguei com saudade de ficar cantando no meu carro parada no transito de SP (leiam o ponto 2 sobre extremos). Você vai sentir falta de pastel, de calabresa, de catupiry, de Dorflex. De coisas que você nem imaginava que eram possíveis.
5.       Você vai perder muita coisa do outro lado e isso dói. Você vai perder crianças nascendo, casamentos, aniversários e datas comemorativas. Não tem o que fazer sobre isso, faz parte da escolha.
6.      Você vai perder dinheiro e quebrar a cara algumas vezes ate aprender como funcionam as coisas no pais que você escolheu viver. Seja com deposito de apartamento, com empregos que não pagam pelo simples fato de você ser estrangeiro (vi muito isso acontecer aqui em Malta), etc. Não deixe isso te abalar, coloca a lei do retorno na frente e segue o baile.
7.     Alguém da sua família vai ficar doente ou falecer. Esse é de longe o ponto mais difícil. E eu espero que nunca aconteça com você, de todo o meu coração, porque ninguém, nunca, esta preparado para isso. Quem esta mais próximo de mim sabe que eu passei por essa situação 3 vezes. Eu lidei com cada uma delas de maneiras diferentes, mas nenhuma foi mais fácil. Voltar não me confortou, ficar não me deixou mais calma. Mesmo com a que eu estava preparada e sabia que ia acontecer e me despedi antes de viajar. Isso te abala de uma maneira que não tem como descrever, mas você não tem controle sobre isso. Iria acontecer com você longe ou perto e você não poderia fazer nada diferente. A culpa não é sua, a pessoa que se foi não te culpa. Vai doer, você vai querer largar tudo e voltar (como eu fiz na primeira vez), mas a verdade é que nada vai melhorar essa dor. É um luto, se deixe sentir ele, sofra, chore, peça apoio e de apoio da maneira que puder, mas siga. Enfrente e siga. O tempo é sempre o melhor remédio para tudo. Ligue para as pessoas que você ama, diga que ama elas. Se faça presente, a tecnologia hoje nos permite viver mais perto mesmo estando longe.

A vida é muito curta. Muito curta para não realizarmos nossos sonhos, muito curta para termos medo de sair da nossa zona de conforto. Momentos ruins vão existir sempre, independente de onde você estiver. Siga a sua jornada da maneira que te fizer mais feliz, mas lembrando sempre que a felicidade não é um lugar e sim um estado de espirito. Você pode estar em um país diferente por semana, mas se você não estiver realizado e feliz com você e suas escolhas, um lugar vai ser apenas isso: um lugar.